Destino do lixo em Francisco Dumont (MG): por que 375 domicílios queimam resíduos no quintal?

Este artigo analisa por que isso acontece, como isso afeta o morador e o que os dados do IBGE mostram sobre a realidade do município.

Como o lixo é descartado na cidade?

Segundo o IBGE, o destino do lixo nos domicílios ocupados é distribuído da seguinte forma:

Isso significa que:

• 62,4% têm coleta regular em casa.
• 14,3% usam caçambas do município.
• 22,2% queimam lixo no quintal.
• Uma parcela muito pequena usa métodos alternativos.

Ou seja, 1 em cada 5 domicílios da cidade queima lixo.

Por que tantas famílias ainda queimam lixo?

Há três explicações principais que se conectam diretamente com a realidade do município.

🟣 1. Zona rural extensa e baixa densidade populacional

Francisco Dumont tem densidade de apenas 2,86 hab/km², o que significa:

• casas muito distantes entre si,
• estradas rurais espalhadas,
• longas distâncias para coleta pública.

Em regiões assim, a coleta não cobre todos os pontos e a caçamba pública pode ficar longe demais. Para muitas famílias, a queima acaba sendo a alternativa mais “viável”.

🟣 2. Ausência de serviço de coleta em áreas remotas

Os dados mostram que não existe cobertura completa. Mesmo entre os 1.055 domicílios atendidos pela coleta, há áreas onde o caminhão passa apenas em dias alternados ou com restrições de acesso.

Famílias que dependem de poços, fossas rudimentares e caminhos de terra frequentemente estão fora do trajeto oficial.

🟣 3. Tradição rural e hábito histórico

Em muitas localidades pequenas e rurais do Brasil, a queima de lixo sempre fez parte do cotidiano:

• pequenos volumes de resíduos,
• áreas amplas,
• pouco contato com vizinhos,
• falta de estrutura para acondicionar resíduos.

É um hábito enraizado e que persiste mesmo com o avanço da coleta pública.

Quais os impactos dessa prática?

📌 1. Riscos à saúde

A queima libera:

• fumaça tóxica,
• partículas finas,
• substâncias irritantes.

Isso afeta especialmente:

• idosos (795 moradores com 60+),
• crianças (909 moradores de 0 a 14 anos),
• pessoas com problemas respiratórios.

📌 2. Riscos ambientais

A queima de lixo pode causar:

• contaminação do solo,
• incêndios acidentais,
• morte de vegetação local,
• poluição do ar.

📌 3. Afeta também a água e o saneamento

Residências com:

• fossas rudimentares,
• poços próximos,
• descarte irregular,

estão ainda mais vulneráveis, já que a poluição pode atingir fontes de água — lembrando que 77 domicílios não têm ligação à rede geral de água.

📌 4. Menor valorização dos imóveis

Casas próximas de locais que queimam lixo:

• têm menor valor de mercado,
• atraem menos interessados,
• podem ser consideradas “ambientalmente inseguras”.

Conexões com outros dados de infraestrutura da cidade

A queima de lixo não ocorre isoladamente. Ela se soma a outros dados:

• Dependência de fossas rudimentares (837 domicílios).
• Baixo acesso à rede geral de água (apenas 624 domicílios atendidos).
• Estrutura rural dispersa.
• Alto número de imóveis vagos e de uso ocasional.

Tudo isso ajuda a explicar por que parte da população adota a queima como solução doméstica.

Como melhorar essa situação?

Mesmo sem intervenção pública imediata, as famílias podem implementar melhorias acessíveis:

🟢 1. Separação de resíduos recicláveis

Reduz o tamanho do lixo queimado.

🟢 2. Construção de pequenos depósitos secos

Ajuda a armazenar lixo até o dia da coleta ou transporte para caçamba.

🟢 3. Compostagem doméstica

Transforma restos de alimentos em adubo para hortas — comum em zonas rurais.

🟢 4. Solicitação comunitária para ampliar a coleta

Grupos de vizinhos podem solicitar rotas específicas ou pontos adicionais de caçamba.

🟢 5. Reformas pequenas no terreno

Criar áreas seguras de descarte provisório evita queimadas próximas à casa.

Conclusão: por que entender esse dado importa?

Os 375 domicílios que queimam lixo revelam:

• desigualdade na cobertura da coleta pública,
• hábitos rurais históricos,
• impacto direto na saúde e no ambiente,
• custo adicional para famílias que dependem de solução própria.

É um dos dados mais importantes para entender a infraestrutura real da cidade e para orientar:

• reformas,
• melhorias domésticas,
• investimentos públicos,
• políticas ambientais,
• ações de saúde preventiva.

Com mais informação, as famílias podem tomar decisões melhores — e a cidade pode evoluir de forma mais sustentável.

📌 Fonte

Dados extraídos de consulta pública do IBGE – Censo 2022 (Destino do lixo domiciliar).